fotosvídeos>textos

O que se estuda em Arquitetura?

25/9/22

Das pessoas que se formaram comigo em 2020, eu tenho quase certeza absoluta que eu fui a única que decidiu fazer arquitetura. Quando eu to numa roda de conversa entre meus amigos e o assunto faculdade começa, eu não costumo falar muito sobre mim. A maioria deles faz administração ou economia, então eles tem muita coisa em comum pra conversar entre eles. Cálculo, econometria, macro e micro economia, finanças e por aí vai. De vez em quando eles me perguntam da minha faculdade e eu explico as matérias que eu tenho. A verdade é que o curso de arquitetura é muito pouco conhecido pela maior parte das pessoas. Todo mundo tem uma noção de quais são as matérias de administração ou economia, mas pouca gente sequer faz ideia do que se aprende em arquitetura que vai além de desenhar.

Quem estuda comigo sabe que eu não sou o maior entusiasta da arquitetura. Não mesmo. Nos primeiros dois semestres da faculdade eu questionei muito o que eu tava fazendo naquele lugar. Eu nunca sonhei em ser arquiteto. E talvez ainda não sonho com isso. Mas cada vez mais eu vejo a importância da arquitetura e o tamanho que é essa disciplina. E queria muito compartilhar essa visão com meus amigos que cursam outras coisas.

Na minha opinião, existe uma grande neblina que permeia a compreensão da arquitetura, que é a materialidade. O resultado imediato do trabalho do arquiteto, querendo ou não, é algo material, físico. Um prédio, uma casa, uma praça. Então é muito fácil pensar que o arquiteto desenha coisas e objetos. Mas existe uma virada de chave nisso que faz você abrir muito mais a mente pra essa disciplina. O arquiteto não projeta edificações, ele projeta espaços. Dá pra entender a diferença? Existem qualidades do espaço que vão muito além dos aspectos físicos, que são justamente consequência desses aspectos. A materialidade tende a limitar o entendimento de uma obra, tende a levar a gente a só pensar se algo é feio ou bonito e parar nossa análise por aí. Mas o espaço é tão, mas tão mais complexo. Façam um exercício, da próxima vez que vocês entrarem numa casa, tentem ir além de pensar se a decoração ou os móveis são ou não bonitos. Tentem analisar o comportamento de vocês lá. Tentem entender o que faz vocês se atraírem mais por um canto da sala do que outro. O porquê das pessoas se reunirem em um lugar da casa mais do que em outro. O motivo de fazerem certos percursos com maior frequência. Quando visitarem uma cidade nova, tentem ir além de só constatar que ela é muito melhor que São Paulo. Pensem o que ela tem que faz vocês se sentirem mais a vontade de andar na rua. Qual o diferencial que faz com que você nem cogite pedir um uber pra se locomover? Porque você não tem medo de tirar o celular do bolso pra postar uma foto da paisagem? Por que todo o ritmo do seu caminhar é diferente? Tudo isso é (ou deveria ser) pensado pelo arquiteto. Tá nas mãos dele.

No último texto que eu escrevi, falei sobre o Kanye West ver as roupas como a melhor forma de levar suas ideias para o maior número de pessoas. Mas acho que existe um campo que faz esse trabalho de um jeito ainda melhor. A arquitetura. O ser humano tá sempre ocupando algum espaço, sem exceção alguma. O arquiteto tem o poder de mexer nesses espaços. Já parou pra pensar as infinitas possibilidades que ele tem de mudar a vida das pessoas? Mudar o jeito como o ser humano interage um com outro. Mudar toda a dinâmica de uma família dentro de casa. Mudar o conforto das pessoas nos lugares onde elas trabalham, onde elas produzem coisas pro mundo. Mudar a forma como o indivíduo enxerga a cidade, a maneira como ele se sente caminhando na rua. 

Então, para os meus amigos que querem saber o que se estuda na faculdade de arquitetura, eu acredito muito que não é como como se desenham prédios e casas. É como se desenha a vida humana.